segunda-feira, 17 de maio de 2010

Eduardo Sguerra



Em 1997, na Florida, criei um imaginário de mulher que só existe lá. Silicone no peito, na bunda, na boca. Biquini asa delta rosa flúor e camisetinha colada com estampa do Mickey, loiríssimas, ou negras musculosas. Todas com uma cara meio de vadiona, de patins in-line, chupando sorvete pela Ocean Drive. Eu tinha 13 anos e adorava estar entre estas mulheres bonitas e sorridentes, ouvindo um funkão direto das caixas de som de um conversível qualquer, na beira da praia.

2 comentários:

  1. Em 1997 eu estava indo pra quinta série. Acho que me apaixonei por um professor, ou nem tanto porque ele - professor de história - era casado com uma professora de matemática. Eu sentava nas primeiras fileiras, era uma ótima aluna. Lia livros de história medieval e depois ia conversar com ele, nos finais das aulas, sobre como seria a vida em outras épocas.

    Naquele ano eu tive síndrome do pânico. De repente, não podia mais ficar sozinha. Eu pensava que espíritos brincavam comigo fazendo cair coisas. Elas caíam mesmo, se me atormentavam, quem fazia isso, não sei. Eu já estava ficando doente. Uma benzedeira que tinha um quintal de arrudas disse que essas coisas acontecem somente se a gente permite. E minha mãe, muito ingenuamente, querendo confirmar a opinião da mulher, me contou a pior história de possessão que eu certamente ouvi na vida.

    Fiquei o ano todo mal, tomando banho acompanhada, indo ao banheiro acompanhada. Passar dois segundos sozinha já era o suficiente pra eu perder a noção de mim mesma, começar a berrar sem parar enquando eu mesma pensava: preciso parar de gritar, preciso parar, eu não consigo. Como se eu fosse duas.

    E então eu tive um sonho do qual eu sempre me lembro muito bem. Eu sonhei que alguém pôs as mãos na minha cabeça, em seguida minha mãe. E me foi dito que eu não sentiria mais medo de nada. E nunca mais senti. Acordei sabendo que eu poderia enfrentar qualquer coisa e talvez isso até tenha me transformado numa fearless. Desse ano em diante eu passei a respeitar profundamente os sonhos.

    No final de 1997, entreguei uma carta de despedida para o professor de história, que sairia do colégio. Disse a ele que eu seria professora de história, graças a ele. Bom, eu virei professora de sociologia e as primeiras aulas que eu consegui foram de história. E a história permaneceu profundamente na minha vida.

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  2. que história linda da yohanna!!! me conte mais da sua vida mulher!

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sejamos docemente biográficos