quarta-feira, 19 de maio de 2010

Lucy Lima

Em 1997 eu tinha 13 anos. Uma cabeça bagunçada, um corpo sofrido e com muitas responsabilidades. Na época morava na casa da minha mãe, com minhas duas irmãs e meu padrasto - quem não me negava pancada. Era muito religiosa, acreditava piamente em Deus, achava que ele se vingava de mim, mas poderia vingar-se em meu lugar.
Foi um ano marcante, decidi que não seria mais nerd. Faria parte da turma do terror: as Poderosas. Esse era o nome da turminha do barulho. Jú Biscoito, Jú Baby, Fabi, Ruth e eu. Achávamos que pixar, fumar escondido, destratar pessoas em público, desafiar os professores, dar selinho na frente de todos da escola era pura revolução e marca de autenticidade. O meu projeto era a popularidade e o respeito da galera. Queríamos formar um grupo de samba. Cheguei escrever algumas letras. Mas nada saiu do projeto.
Minha mãe e meu padrasto estavam desempregados. Comíamos o que recebíamos de doação da família. As roupas que usávamos tinham a mesma fonte. Quem cuidava das minhas irmãs era eu. Uma tinha 2 anos e a outra 7. “Minhas crias”. Além disso, tinha de cuidar de toda a casa. Minha mãe estava em depressão e meu padrasto só colaborava com as críticas e perseguições.
Eu era muito gostosa nesta idade. Quem me assediava eu não queria, a maioria maloqueiros das bocas de fumo. Muita adrenalina. Foi o ano do meu primeiro beijo na boca e a primeira vez que refleti sobre a possibilidade de ser bissexual.
Lia escondido. Meu padrasto nos forçava ir dormir muito cedo, eu pegava um livro e colocava embaixo das cobertas. Quando ele ia ouvir rádio em seu quarto, eu lia com a luz que entrava pela janela. Na época lia qualquer coisa que chegasse a minhas mãos.
Também foi o ano que tive aula com o Professor Agnaldo. Lindo, inteligente, sensível, romântico e um negão muito do gostoso. Dizia que eu tinha muito potencial. Deveria deixar de me dedicar à bagunça e procurar ser mais de acordo com minha essência. Como não sabia como era essa tal essência disse a ele que procuraria independente do tempo que pudesse levar. Lembro deste professor com muito carinho, ele parecia entender o que eu estava passando. Seus olhos brilhavam ao ler uma poesia.
O futuro desta época foi diferente do que imaginava. Como hoje muitas coisas já são passado, sei que extrapolei o que foi previsto para mim. Muito estranho rememorar...

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Lucy Lima

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