terça-feira, 18 de maio de 2010

Vi

Em 1997, eu. Segundo ano da faculdade de letras da ufrj, ilha do fundão ou algo próximo do cenário apocalíptico. Detestava, achava tudo fraco, bagunçado, feio, quebrado, sujo, poluído, sem falar em toda aquela fonologia, morfologia, e um latim que foi mesmo para que eu nunca mais soubesse latim, ueritas, ueritatem, ueritate. Em uma aula fomos a um laboratório em que tínhamos que falar ‘cadeira’ numa máquina e analisar as frequências do gráfico. Eu ia de ônibus, levava 1 hora até a faculdade, um ônibus abarrotado de gente dentro, ia amassada na porta, às 6 da manhã, para chegar lá e ver aquilo.

Nas férias do início do ano tinha me apaixonado por um estudante de arquitetura 8 anos mais velho, na verdade, claro, não tínhamos nada em comum, ele era louco, bebia todas, fumava todas, era engraçado, e lindamente moderninho, metido a artista, paixão platônica durante meses, antes de conseguir me aproximar e vermos, os dois, que não, não dava (mas isso foi só no ano seguinte). Acho até que ele me fez bem, porque eu mudei muito na direção dele.

Quando pensei em 1997, achei que tinha sido um ano triste, e não sabia bem o motivo, mas, sim, eu morava numa casa horrível com a minha mãe, era a nossa época ainda de muita dificuldade de dinheiro. Era uma casa emprestada de uma tia avó, tinha um quarto só, e minha mãe juntava cada um dos centavos para comprarmos a casa em que ela mora hoje. Mas antes, naquela casa, lembro que numa noite um rato subiu na minha cama e que enquanto eu tomava banho às vezes saia uma lacraia pelo ralo. Logo nos mudamos, mas até hoje eu tenho ainda uns pesadelos com aquela casa.

Ah!, em 1997 nasceu meu irmão mais novo por parte de pai, fui com a minha amiga mais próxima para Belo Horizonte de ônibus para conhecê-lo, foi muito divertido, rimos muito na viagem. Cheguei lá e ele era tão pequeno, tão pequeno, que li Hamlet, para uma aula da semana seguinte, com ele no colo e ele ficava emboladinho entre o meu queixo e o meu umbigo.

No fim do ano fiz meu segundo vestibular para jornalismo, antes da última prova, depois de ter feito muito bem todas, eu acordei e pensei ‘eu vou passar’. Então me sentei na cama e decidi não ir à prova (que era literalmente do outro lado da rua), me deitei e voltei a dormir. Passei uns anos achando essa uma decisão sem nexo, mas foi imensamente sábia. Depois veio um dos melhores fins de ano que passei na fazenda, e 98.

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sejamos docemente biográficos