segunda-feira, 17 de maio de 2010

Mayana Redin

em 1997 mau humor constante e, paradoxalmente, o primeiro beijo.
foi no verão - claro - na praia; na frente de uma igreja, com um moleque qualquer que tinha se engraçado. odiava colégio, odiava o rio grande do sul, gostava dos professores. era neutra, não tinha personalidade, tímida e estranha, óculos, aparelho fixo, e problemas com o peso.
passava muito frio e ainda tinha sotaque mineiro. era estrangeira, e adolescente.

preferiria contar algo ainda dos anos oitenta quando tudo era mais bonito.
mas como a brincadeira é 97, aqui estou, quase numa rememoração melancólica dos anos 1997, quando a vida era quase somente a maldita escola que estudava e outras coisas que, sem saber que poderiam se tornar algo interessante na minha vida, eu deixava passar porque nao era muito "interessante" no meio em que vivia. a música, por exemplo. tocava violão e aprendia tudo que queria com a vontade de uma criança.

esses dias um amigo do colégio (dessa época) descobriu que éramos vizinhos no novo rumo das crianças de 97 que viraram adultos em 2010. ele me falou: "você era uma entusiasta dos esportes!". fiquei chocada com aquela imagem que ele tinha de mim, mas era real: eu jogava.
era uma jogadora. nao mudou muito hoje, mas agora acho que jogo outras coisas.

jogava vôlei, times femininos e toda uma função competitiva que sentia nenhuma capacidade de acompanhar. mas era a levantadora oficial do time. uma função bem poética: quase terapeuta do time: eu botava a bola pra cima pras outras fazerem o ponto. era uma coisa que sempre me chamava atenção. todo erro era meu, e todo acerto, era delas.

acabei tomando gosto pelo erro, e desandei para o mundo da decepção: a arte e o gosto pela tentativa. a diferença agora é que a decepção é matéria de criação. antes, era matéria de opressão. gosto mais desse outro jogo.

ainda assim, até hoje, é o unico sonho que se repete daquela época: eu de novo numa quadra de vôlei, com uma treinadora irritadiça do meu lado, histérica. imagino que seja sintomático de épocas nervosas, quando repito os mesmo sintomas daquilo que aprendi com a rudeza de uma cidade alemã, fria e nervosa.

sinceramente, preferiria ter ficando com as memórias do beijo, mesmo que errado, torto, estabanado.

1998, já, foi bem melhor.

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Mayana Redin: em seu flickr e seu blogue.

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