quarta-feira, 19 de maio de 2010

Ana Pi

em 97 tinha dez anos, vivia com piolhos que transitavam em alternância entre a sua cabeça e a de seu pai, que a buscava a cada fim de semana para assistir filmes de arte no antigo cinema nazaré da rua guajajaras em belo horizonte, a única vez que ousaram assistir algo mais pop, titanic, acabaram mudando de escolha e viram amistad, pois a sessão estava lotada.

tinha duas fixações, seu super patins roler com rodinhas de poliuretano e fazer 'cosquinhas' na barriga da sua mãe que estava grávida do seu irmão mais novo, gabriel, cujo nome, ana, que ainda era 'ana carolina moura de oliveira', escolheu em acordo com seu padrasto. sua grande amiga era a junia, a moça quem cuidava dela, suas diversões juntas eram fazer salada de carambola, cortar estrelinhas, e ligar para a rádio e oferecer música uma à outra, até o dia em que junia a ofereceu 'brucutu' de roberto carlos e esta seria imbatível, virou hit

nesta época ia de ônibus sozinha para a escola, estava na quarta série e estudava numa escola publica no bairro eldorado, mas já tinha se mudado para o barreiro, sempre mudava, sempre. a independência começava, mas nem tanto, um dia sua mãe pediu para que ela comprasse alface no sacolão, mas ela trouxe repolho, tirando isso adorava fazer o percurso tocando as campainhas dos vizinhos. e gostava de quando vizinhos novos se mudavam para o condomínio para junto com luiza [sua primeira melhor amiga da vida] aproveitarem o papelão para escorregar na grama inclinada que havia entre um bloco de prédios e outro.

um dia carol [uma outra amiga] a aterrorizou profundamente dizendo que quando o gabriel nascesse sua vida seria um inferno e que sua mãe se esqueceria dela, mas ana nem 'tchum' até quando ele realmente nasceu, ela pegou catapora e foi mandada uma semana ou mais para casa da sua tia tidinha que a mergulhava em banhos com um pozinho roxo e pasta d'água depois.

nesse ano fez onze anos, ia se mudar para o colégio católico particular do novo bairro e estava ultra animada, sua mãe continuou não passando nos infinitos exames de direção, seu padrasto atropelou um cachorro e ela teve toda a raiva do mundo por causa disso, uma chuva fez desmoronar a grama inclinada do condomínio, ela caiu de barriga quando andava de patins de costas e o seu pai roncou muito no outro filme pop que eles tentaram assistir que ela nem pôde se concentrar.

começou a gostar de tarô e das pedras semi-preciosas do brasil graças à sara, a cabeleireira da sua mãe na época, ana fez relaxamento no cabelo e seu pai ficou decepcionado. seus pais brigavam sempre, ana planejava estratégias minuciosas de evitar as brigas, um dia disse à sua mãe que queria morrer e sua mãe a colocou de castigo.

fez também ginástica olímpica neste ano com um professor histérico, tentou participar do coral da igreja, ideia da mãe da luiza, não durou nem dois domingos.

tentou fumar e não conseguiu, se viciou em cachorro-quente. frequentava as festas da turma de mestrado da sua mãe e odiava caetano veloso, pintou junto com o seu pai uma tela à óleo que integrou a primeira exposição individual dele na biblioteca publica perto da praça da liberdade, seu irmão foi e todos diziam que ele era filho do chico césar por causa do seu cabelo no meio, era engraçado, ana amava o cd aos vivos do chico césar, havia cd nessa época, isso era incrível.

gostava dos trovões nas chuvas do barreiro e queria muito ter um cachorro.

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Ana Pi: seu blogue e seu flickr.

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