segunda-feira, 17 de maio de 2010

Giu

Eu tinha 16 anos em 1997. Adolescência é uma vastidão de sentimentos, difícil saber narrar numa linha só, quando eu penso vira uma teia.

Morávamos apenas eu e minha mãe, e minha vida era escola e igreja. Estava no 2º colegial do Arqui, fazia humanas, só porque queria estar perto dos amigos nas aulas: sabia que tentaria Farmácia no vestibular. De brinde, aprendi filosofia e descobri Sartre, que colocou em xeque toda minha crença católica.

Neste ano, eu parei de andar tanto com meninas e me aproximei mais do Hilbert, meu companheiro fiel e inseparável até hoje. Passávamos as aulas eu, ele, Edson e Richards, escrevendo numa folha, uma espécie de chat analógico. Neles, a gente colocava apelido em absolutamente todos os alunos e professores e fazíamos piadinhas. A vingança dos nerds, não éramos descolados, éramos os esquisitos.

Lembro de ter ficado entre os 20 melhores alunos daquele ano, contra a minha vontade, não era aquela paranóia de competição que eu buscava. Comparar notas e modelos de tênis. Era muito opressivo e cruel aquele colégio, era muito grande, 500 alunos só da minha idade. Comprava muita briga, não deixava barato, mas chegava em casa e chorava muito.

Lembro de um trabalho de Literatura com Capitães da Areia, a gente fez um teatro de fantoches. Eu ainda fazia teatro, é verdade, ele me ajudou muito.

Já sofria de paixões platônicas e romanceava tudo. Quando eu finalmente consegui esquecer o Fabiano, que nunca me deu bola, e passei a gostar do Denis, seu melhor amigo, o Fabiano se declarou pra mim. Os desencontros. Eram meninos da igreja, eu estudava pra me crismar muito mais por eles do que por qualquer coisa.

Minha primeira sobrinha, a Luiza, nasceu já no 5º dia de 1997. Apaixonada, passava depois da aula todos os dias para vê-la. Almoçava, tomava um copão de nescau e dormia a tarde toda. Acordava pedindo dois pães na chapa pra Tiana, funcionária da família que cuidou até da minha bisavó. Meu irmão e cunhada não entendiam como eu funcionava daquele jeito.

No meu aniversário, em junho, frustrada por não ter tido uma festa de 15 anos ou uma viagem pra Disney, minha mãe me deu o melhor presente: chamou todos os meus amigos e contratou uma serenata, pra tocar "Tempos Modernos". Eu ouvia muito Barulhinho Bom, da Marisa Monte, e já me permitia.

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giuliana xavier é uma das grite poesias.

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