terça-feira, 21 de junho de 2011

Elias Mendes

Em 1997 eu estava no limiar da inocência, e eu não sei dizer se é exatamente por isso que a imagem mental que tenho desse ano é dourada, reluzente, doce e extasiante. Digo limiar da inocência porque depois desse ano, entrei numa verdadeira espiral descendente em termos emocionais, em termos inclusive de autoconfiança. Posso ter ficado bem menos ingênuo depois, mas prefiro até hoje aquela inocência, aquela absoluta falta de noção, de limites ...

Materialmente eu era mais pobre, mas acho que emocionalmente eu nunca fui tão rico em toda minha vida. Estava na sexta série, mas eu deveria estar na quinta, por que não precisei fazer um dos anos. Se fosse hoje, seria o sétimo ano. Não tinha ambições, a não ser a de deixar todos os meus personagens no Final Fantasy 7 no level 99, coisa que nunca consegui, por falta de persistência.

Esse foi o ano do meu primeiro beijo, do meu primeiro “trabalho”, das minhas primeiras responsabilidades. Tive 11 anos durante o ano inteiro e fiz 12 quando ele terminou. Eu mestrava RPG, era o líder da classe ao longo do ano inteiro no colégio e tinha a simpatia da diretora da escola, uma leonina que hoje em dia é minha cliente. Ela sempre me escolhia pra representar a escola em todos os eventos, e isso foi na verdade desde 96 até 98, todo o período de Saturno em Áries.

Eu ainda era coroinha, escoteiro e acho que nunca, na minha vida inteiro tive tantos amigos. E eu fazia teatro no colégio. Aliás, o teatro só existia porque eu queria, eu escrevia as peças, dirigia e atuava nelas e mobilizava todo mundo pra participar, e o suporte era a amizade da diretora leonina, que tudo o que eu pedia atendia, tudo o que eu aprontasse perdoava. Acho que eu era o único que entrava na sala dela pra conversar com ela e não pra tomar bronca, nunca entendi até hoje porque todos tinham tanto medo dela.

Imitava os professores, jogava truco na hora do recreio, xadrez nas aulas de educação física, rpg antes e depois da aula. Tinha uma coleção imensa de revistas dos X-Men, herdei a coleção de um primo e comecei a comprar os números atuais naquele ano. Ia de ônibus pro colégio e levava comigo minha prima, que tinha uns 7 anos na época, arrastando ela pela mochila. A escola Básica Venceslau Bueno não ficava muito longe, era no bairro vizinho, mas mesmo assim minha mãe fazia questão de que eu fosse de ônibus porque ela tinha medo de eu morrer atropelado ao atravessar a rodovia. Frequentemente eu voltava a pé pra casa, vendia passes e comprava sorvetes ou revistas dos X-Men.

Dormíamos frequentemente na casa da namorada de minha mãe. Ainda estava me acostumando com a novidade (o fato de minha mãe namorar mulheres), que era recente. Mas ela era legal, frequentemente dava dinheiro pra mim e minhas irmãs gastarmos no shopping e geralmente íamos no cinema.

Ainda tinham os verões na casa da minha tia, onde íamos a praia, escalávamos os morros próximos, tomávamos banho de cachoeira e éramos felizes.

E o meu trabalho: uma amiga da minha mãe abriu uma espécie de lan house, mas sem computadores, apenas com videogames e eu ficava lá pelas manhãs, “trabalhando”. A única responsabilidade era a de abrir a loja no horário certo. Na verdade passava a manhã inteira jogando vídeo-game porque ninguém nunca ia jogar pela manhã ...

Bom, não sei porque, tudo o que eu fazia naquela época era muito bom, muito legal, e tudo o que eu queria acontecia. Vivia em empolgação constante, em gozo permanente. Nunca fui tão criativo, produtivo, nunca vivi tanto a vida. Hoje eu faço muitas coisas, viajo, trabalho e enfim, nada é “tão legal” quanto era naquela época. De 2000 pra cá a vida deixou de ser dourada e ficou cinzenta. To querendo entender como é que rolou, tão subitamente essa mudança na cor das “lentes” usadas por mim pra enxergar a vida. Não sei, talvez eu nem use mais lente nenhuma hoje em dia. Mas 97 é o meu “Eldorado” perdido. Estou até hoje tentando voltar, mas acho que esqueci o caminho. Talvez nada tenha sido tão bom, talvez tenha sido só a impressão, quem sabe um delírio, mas eu queria viver isso de novo, mesmo que tenha sido apenas uma “febre delirante”. Que doença boa! E não sei, acho que não é porque eu era criança não. Antes dessa época as lembranças são bem mais tenebrosas ...

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Elias Mendes

Um comentário:

  1. 12 anos é uma idade marcante.. é bom no horoscopo chines, o ano do seu proprio signo chines sempre é muuuito bom! os meus 12 anos, quinta serie foram tuuudo de bom...

    andava feito uma doidinha, cabelo com mecha pintada de amarelo queimado (coisa de carnaval), as calças do colegio todas manchadas, pixava meu nome em tudo que era buraco, era o terror dos professores, mas jamais tirava nota baixa...

    ciclos de jupiter talvez? se encaixam bem..

    realmente depois as coisas desandaram psicologicamente um pouco e so vieram melhorar mesmo depois dos 24, um novo ciclo de 12 anos...hehehehe..

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sejamos docemente biográficos