quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Bruna Beber

1997 foi um ano químico. Me dediquei sobretudo à produção de perfumes. Leila Percas e Ganhas, cujo batismo se efetivou depois da primeira aula sobre percas e ganhas de elétrons (sic), decidiu nos iniciar à gincana das fragrâncias.

Íamos apresentar um trabalho sobre perfumes pra ganhar pontos extras sem fazermos ideia de como fazer um perfume. Leila P&G, com seu impulso de cama elástica parada, desafiou "Ué, pesquisem. Lá no Mercadão tem tudo".

As instruções eram objetivas: Mercadão de Madureira/ loja de essências/ essências/ vidrinhos/ tampas. Depois, uma loja de presentes: saquinhos/ lacinhos/ caixinhas. Por fim, uma papelaria: etiquetas/ um toner de impressora/ cola.
Em uma tarde na casa da Iracema, a única pessoa do mundo que conseguiu usar os cds de instalação da AOL pra alguma coisa além de móbile de teto, e também a única que podia usar a internet antes da meia-noite livremente, achamos as respostas principais no site Cadê? e alguns detalhes no AltaVista.

Naquela época isso significava nada. Procuramos por alguma sala de bate-papo de farmacêuticos no Zip, nada. Enciclopédias, pararam em botânica. Ninguém mais tinha um Pequeno Químico inteiro e o Telecurso 2000 há três anos só ensinava MMC e MDC.

Em trinta minutos no Mercadão de Madureira, o vendedor nos ensinou não só a fazer perfumes, como xampu e creme rinse, o futuro condicionador. Minha função decidida pelo grupo era simples: fazer as misturas. Saí da loja confiante de que perfumaria a escola, o bairro e o meu avô, resistente ao elemento água.

Comecei com alfazema, um cheiro clássico e fresco, a alegria das professoras. Depois copiei O Boticário: Quasar, Dimitri, Tati. Por intermédio e crítica de uma amiga me aprofundei copiando a Calvin Klein – CK One e CK Be - visando atingir o público adolescente.

Mas foi com versões Avon que tive resultados mais satisfatórios. O perfume Toque de Amor é minha lembrança de fragância mais remota. É também minha lembrança mais remota de veneno. Como uma fada, por onde passava, vovô deixava seu inconfundível cheiro misto de roupa mal lavada com falta de banho: toque de amor.

O dia da apresentação se aproximava e eu tentava convencer o grupo de que devíamos mostrar o que nós mesmos havíamos desenvolvido. No caso, eu, sem oportunidade de escolha, em nome de todos, havia passado maravilhosos momentos transformando meu fracasso em copiar o sucesso alheio em sumo êxito pessoal. Criei minha própria coleção.

Cenário Beleza: folhas de mangueira com desodorante Musk. Até o Caroço: uma imersão de caroços de ameixas pretas comidas com incenso esfarelado de sândalo. Cajuliana: folhas de cajueiro socadas e descansadas por três dias dentro de um Vinólia rosa.

Tiramos zero. 
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