sexta-feira, 11 de junho de 2010

Sérgio Ferreira Mendes

Ponho o meu 1997 como uma personificação. Uma moça de vestido longo e xadrez preto-e-branco. Foi o ano em que entrei no colégio técnico cujo prédio hoje, é quase-centenário. Tinha seus longos corredores revestidos de ladrilhos hidráulicos pretos e brancos alternando-se a formar um extensíssimo tabuleiro de xadrez; pode ser que tenha sido um ano chave. Nele, livrei-me do fantasma agourento que tinha sido o ginásio, apagando o passado como se nunca houvera (erro, pois o passado jamais se apaga e reaparece nos momentos menos desejáveis).

Ano em que conheci gente nova e dela ainda carrego parte comigo. Tive um professor de Desenho técnico que fedia cigarro e naquele tempo feliz ainda se podia fumar nos corredores. Ano cansado de, pela primeira vez na vida, acordar antes do sol e pegar condução; afinal, valia a pena, era um colégio técnico; de dormir em colchonetes durante a aula de Educação Física enquanto os rapazes matavam-se por uma bola de futebol. Tempo de acostumar-se à sisudez neoclássica do prédio, aos seus espaços amplos, ao pé-direito titânico e aos janelões sem cortina que valeram meio corpo queimado de sol. O inverno particularmente frio, o homem que aparecia no ônibus pela manhã, sempre imerso na própria fedentina, o cobrador que me acordava quando o ônibus chegava ao ponto final.

Pelo meio do ano apareceu-me um amor platônico que duraria três anos e meio e se visse a moça hoje, talvez não a reconhecesse porque a memória nos traí e ela continua com a mesma face de há tantos anos. E com um longo vestido xadrez.

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Sérgio Ferreira Mendes

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