quarta-feira, 2 de junho de 2010

Bruno de Abreu



(baby, por gal costa)


pés

lembrar das noites frias nos pés descalços
- a meia na gaveta, os tacos ameaçando
estrepes. lembrar
da porta de correr
da varanda refletindo a cidade
em constelação
nos móveis da sala
e de djavan toda manhã
pedindo a são jorge o dragão
até enjoar
não conhecia
a carolina, nem sabia
o que se entende por uma
honey baby
barriga no chão pra desenhar qualquer
abstração do que já entendia sobre estar
vivo. os sulfites preenchidos
em tempo recorde
até que a barriga doesse de tanto desenho, cor-de-rosa
de tanto chão
então vinha a fome, e eu lavava as mãos
com um sorriso no rosto

Em 97 eu tinha quatro anos. Lembro que minha mãe gostava muito de gal costa, zizi possi e djavan, e era música o dia inteiro, o que enchia o saco às vezes. Na época, porém, encher o saco era algo tolerável. Nas minhas manhãs e noites - à tarde tinha escola - eu ficava rabiscando papéis no chão, brincando de power rangers, fazendo shows de música pra lá de agitados com meu pai, realizando mágicas com canudos, ganhando medalhas etc etc etc. Além disso, eu me escandalizava um pouco com pessoas que confundiam tigres com onças. Tive várias paixões.

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Bruno de Abreu

Um comentário:

  1. Adorei. Eu era menina em 1997, mas super me identifiquei com o Bruno.

    Priscilalopes.com

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sejamos docemente biográficos