mil novecentos e noventa e sete foi quando completei a primeira década, o que significa que em oito de julho daquele ano eu trazia nas costas a leveza de três mil seiscentos e cinquenta dias de existência acumulada, mais os dois vinte-e-noves de fevereiro que tinham me percorrido até então.
pelo que me lembro com a ajuda de algumas matemáticas feitas nos dedos, estava em fase de adaptação à nova cidade, a segunda das sete idas e voltas que contabilizo até aqui. foi a época em que comecei a usar calças jeans pra ir à escola, com a barra desfiada que eu achava o cúmulo da transgressão e denunciava a pederastia vindoura. estava na quarta série, era o último ano daquele lado do colégio, o destino depois seria junto dos que pareciam grandes e inatingíveis.
morávamos, então, numa casa da cor mais peculiar que tinha visto na vida, mistura de bordô, ameixa, berinjela, toda sorte de roxos. ficava bem no alto de um morro muito íngreme, que subíamos de costas eu e meu irmão, numa tentativa de aliviar o peso psicológico de lutar contra a gravidade enquanto voltávamos da natação, que ficava justamente no pé da rua.
o proprietário dessa casa tinha também uma chácara na propriedade vizinha, à qual tínhamos acesso livre. lá vezenquando aconteciam churrascos, nadávamos pelados, comíamos manga no pé, jogávamos um monte de futebol, batíamos punheta, íamos e voltávamos mergulhando sem sair pra respirar, ficávamos queimados demais de sol. sempre passavam gambás correndo pelos muros e os relâmpagos que se rabiscavam naquele céu eram inigualáveis.
o vizinho de trás tinha um mamoeiro que quase caía dentro de casa. ele era mal encarado. eu morria de medo de buscar a bola quando caía na casa dele, porque uma vez andei sobre o piso que ainda secava e ficou desnivelado pra sempre.
tinha também uma minipapelaria na mesma quadra, que vendia doces os mais vagabundos: dip'n'lik, moranguete, uns açúcares saborizados dentro de embalagens de plástico em forma de fruta. no caminho da escola tinha outra papelaria, mais guarnecida. eu era assíduo nas duas e, entre uma e outra, tinha uma loja que alugava decoração pra festas infantis e tinha um mickey deformado pintado na fachada, exemplo elevado da mais pura antipropaganda.
pelo que me lembro com a ajuda de algumas matemáticas feitas nos dedos, estava em fase de adaptação à nova cidade, a segunda das sete idas e voltas que contabilizo até aqui. foi a época em que comecei a usar calças jeans pra ir à escola, com a barra desfiada que eu achava o cúmulo da transgressão e denunciava a pederastia vindoura. estava na quarta série, era o último ano daquele lado do colégio, o destino depois seria junto dos que pareciam grandes e inatingíveis.
morávamos, então, numa casa da cor mais peculiar que tinha visto na vida, mistura de bordô, ameixa, berinjela, toda sorte de roxos. ficava bem no alto de um morro muito íngreme, que subíamos de costas eu e meu irmão, numa tentativa de aliviar o peso psicológico de lutar contra a gravidade enquanto voltávamos da natação, que ficava justamente no pé da rua.
o proprietário dessa casa tinha também uma chácara na propriedade vizinha, à qual tínhamos acesso livre. lá vezenquando aconteciam churrascos, nadávamos pelados, comíamos manga no pé, jogávamos um monte de futebol, batíamos punheta, íamos e voltávamos mergulhando sem sair pra respirar, ficávamos queimados demais de sol. sempre passavam gambás correndo pelos muros e os relâmpagos que se rabiscavam naquele céu eram inigualáveis.
o vizinho de trás tinha um mamoeiro que quase caía dentro de casa. ele era mal encarado. eu morria de medo de buscar a bola quando caía na casa dele, porque uma vez andei sobre o piso que ainda secava e ficou desnivelado pra sempre.
tinha também uma minipapelaria na mesma quadra, que vendia doces os mais vagabundos: dip'n'lik, moranguete, uns açúcares saborizados dentro de embalagens de plástico em forma de fruta. no caminho da escola tinha outra papelaria, mais guarnecida. eu era assíduo nas duas e, entre uma e outra, tinha uma loja que alugava decoração pra festas infantis e tinha um mickey deformado pintado na fachada, exemplo elevado da mais pura antipropaganda.
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