lembro outro dia que não lembrava de nada. você
perguntou, e só se dava o embaralho dos planos cortados e montados na hora,
alguns até em seu incólume fade out, nascido do não deter alguma ocasião
provavelmente tão efémera, tão infantil quanto eu em mil novecentos e noventa e
sete
sou agora, portanto, eu, a moviola, uma
cadeira desconfortável, pilhas de rolos desenrolados que vêm do teto, das
paredes, do chão atrás de mim, de mim. minha memória e eu.
preparei a sala escura e esperei um
amanhecer qualquer que me trouxesse os noventa, no meio do segundo meado.
essa condição humana de montadora do
passado faz pensar no futuro. que eu, naquele ano, não tinha a menor ideia de
onde estaria em 2012. nunca sabemos o que estaremos fazendo daqui a 15 anos.
não estaria eu refletindo sobre isso,
parada no sinal de pedestre, numa avenida atlântica de balneário camboriú em 95. os azuis ao fundo, a
vontade de atravessar a rua ou nenhum sentimento por isso, menos que isso, eu a
olhar o mar apenas.
Tão efémero quanto eu foi aquela atlantica
ser invadida por um sem número de motoqueiros harley davidson e suas altas
colunas, momentâneamente entre mim e o mar. todos cantavam e sentiam uma música
- que depois eu saberia ser wonderwall, do oasis.
em 97, no entanto, nada de futuro.
em 97 conheci meu pai biológico.
um grande e branco passe-partout dentro de
um cubo branco.