Em 1997 eu tinha 14 anos e sabia que a ordem natural da vida era: nascer-viver-morrer. Porém, quando a mãe da Marina morreu do coração, o tio da Roberta em um acidente de carro e a filha de um amigo do meu pai, aos 14 anos, tive certeza que o mundo estava fora dos eixos.
Naquele ano, um pouco antes das férias, cortei o cabelo curtíssimo, como o da Amelie Poulain, mas sem a franja. Naquelas férias, meu pai pediu um táxi, solicitou que fosse levado à rodoviária e, lá, pediu um bilhete para o primeiro ônibus que saísse. Foi parar em Tailândia, no Pará, mas isso só fiquei sabendo muito tempo depois. Foram as últimas férias da família toda junta, mas isso, também, eu só saberia muito depois.
Naquele ano me apaixonei pelo menino-mais-bonito-do-colégio, participei de um teatrinho cujo tema era prevenção às drogas, fiz uma festa de aniversário em que fui feliz, cantava “Depois do prazer” em tom choroso, para debochar e, como todos os meus amigos, dizia odiar Claudinho e Bochecha, mas é provável que um dia tenha cantado aquilo, porque grudava na cabeça.
Eu queria ser jornalista, eu estudava piano em um conservatório em que as gurias me desprezavam, eu fazia caminhada sozinha, eu tirei o aparelho dos dentes, eu ganhei um livro de Camus, no Natal, ponto muito importante e que definiu muito do que veio depois.
Fizemos uma festinha de formatura de oitava série cujo convidado de honra era o professor de matemática, que eu deixava falando sozinho na sala, levantava e ia embora, quando a aula era no último horário. Ele gritava para eu voltar, lá de dentro, dizendo: Vou tirar 5 pontos! Dez pontos! Não sei se ele aumentava infinitamente a nota que me tiraria, mas a verdade é que ele não tirava nada. Ele possuía uma aura de fracasso que era muito anterior ao nosso desrespeito e, de certa forma, aos 14 anos, era o professor/adulto com quem mais poderíamos nos identificar. Eu olhava para trás, no fim do corredor, e dava tchauzinho. Quando ele se matou, senti remorso por isso.
Eu queria ser jornalista, eu estudava piano em um conservatório em que as gurias me desprezavam, eu fazia caminhada sozinha, eu tirei o aparelho dos dentes, eu ganhei um livro de Camus, no Natal, ponto muito importante e que definiu muito do que veio depois.
Fizemos uma festinha de formatura de oitava série cujo convidado de honra era o professor de matemática, que eu deixava falando sozinho na sala, levantava e ia embora, quando a aula era no último horário. Ele gritava para eu voltar, lá de dentro, dizendo: Vou tirar 5 pontos! Dez pontos! Não sei se ele aumentava infinitamente a nota que me tiraria, mas a verdade é que ele não tirava nada. Ele possuía uma aura de fracasso que era muito anterior ao nosso desrespeito e, de certa forma, aos 14 anos, era o professor/adulto com quem mais poderíamos nos identificar. Eu olhava para trás, no fim do corredor, e dava tchauzinho. Quando ele se matou, senti remorso por isso.
O ano acabou, a festa acabou e, no final, estava ao lado do aparelho de som ouvindo Nenhum de Nós e tomando um vinho de garrafão: Depois da última noite de festa, chorando e esperando, amanhecer, amanhecer, as coisas aconteciam com alguma explicação, com alguma ex-pli-ca-ção.
Explicação não tinha e eu fui em uma sessão espírita em que, segundo meu tio, as pessoas era mesmo possuídas. Assistindo ao transe, tive uma vontade tremenda de rir, e pensava na música do Cazuza, já que o tema daquela noite era a piedade. Acho que em alguma hora não controlei direito o riso, porque um homem me olhou com uma cara muito feia. Murchei.
Quem eu era? Não sei. Eu queria uma vida grande, cheia de emoções, sempre ensolarada. Coisas que, no mundo adulto das pessoas da minha casa, não tinha.
Um milhão de recortes mais poderia fazer de 1997, mas hoje estou triste e fico por aqui.
Explicação não tinha e eu fui em uma sessão espírita em que, segundo meu tio, as pessoas era mesmo possuídas. Assistindo ao transe, tive uma vontade tremenda de rir, e pensava na música do Cazuza, já que o tema daquela noite era a piedade. Acho que em alguma hora não controlei direito o riso, porque um homem me olhou com uma cara muito feia. Murchei.
Quem eu era? Não sei. Eu queria uma vida grande, cheia de emoções, sempre ensolarada. Coisas que, no mundo adulto das pessoas da minha casa, não tinha.
Um milhão de recortes mais poderia fazer de 1997, mas hoje estou triste e fico por aqui.